O ambiente
brasileiro para iniciativas inovadoras melhorou nos últimos dez anos, do ponto
de vista de alguns indicadores. As empresas, por exemplo, têm nas universidades
e institutos de pesquisas parceiros importantes para a implementação de novos
projetos.
Em São Paulo,
cerca de 6% dos recursos que as três universidades públicas estaduais -
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista
(Unesp) e Universidade de São Paulo (USP) - dedicam à pesquisa têm origem em
contratos com o setor privado.
Nos Estados
Unidos, a média de participação de recursos de empresas no total de
investimentos em pesquisa de grandes universidades é de exatos 6%.
Comparadas com as
universidades dos EUA, as três universidades paulistas estariam entre as 20 que
mais recursos recebem de empresas para apoio à pesquisa. Os gastos públicos e
privados com pesquisa e desenvolvimento (P&D) em São Paulo somam,
atualmente, 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, percentual superior
ao de Espanha, Itália ou Chile.
Ideias patenteáveis
Apesar dos
avanços, o desempenho inovador das empresas brasileiras ainda é baixo, com taxa
de inovação de 35,7% - de acordo com a Pesquisa de Inovação (Pintec) 2011 -,
percentual que, por fatores conjunturais, foi até inferior aos resultados da
Pintec 2008, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
registrou taxa de inovação de 38%.
Um grande desafio
é a criação de ideias patenteáveis nas empresas, quesito no qual a indústria no
Brasil e em São Paulo também mostra pouca competitividade. Em São Paulo, mesmo
com o grande dispêndio em P&D feito por empresas, para cada mil
pesquisadores empregados por empresas geram-se apenas cinco patentes
registradas no país (INPI), proporção que cai para 1,9 quando se contam as
patentes no United States Patent and Trademark Office (USPTO).
No Reino Unido o
mesmo número de pesquisadores em empresas gera 29 patentes nacionais e 36 no
USPTO; na Coreia do Sul, cada grupo de mil pesquisadores de empresas gera 333
patentes no país para seus empregadores e 41 nos Estados Unidos; enquanto na
Espanha mil pesquisadores empregados por empresas criam 47 patentes no país e 7
no USPTO.
Ecossistemas de inovação
Os modelos de
inovação inspiram-se, em sua grande maioria, em imagens matemáticas - modelos
lineares, poligonais, de redes colaborativas e de concentrações - ou
biológicas, como o da hélice tríplice, entre outros. "Em que pesem os
avanços com o uso desses modelos, questiona-se a efetividade real dos
mecanismos existentes e dos recursos aplicados para fazer da inovação um eixo
estruturante do desenvolvimento econômico e social", afirmou Ary Plonski,
da Faculdade de Economia da USP.
"Há novas
ideias-força em gestação", sublinhou na palestra sobre Ecossistemas de
Inovação. Uma delas é a de ecossistemas de inovação, que descreve a articulação
"virtuosa" do amplo conjunto de atores e de recursos necessários para
a implementação da inovação, envolvendo empreendedores, investidores,
pesquisadores, universidades, investimento de riscos, assim como negócios e
serviços relacionados a design, capacitação de pessoal, entre outros.
O exemplo mais
conhecido de um ecossistema de inovação bem-sucedido é o Vale do Silício, na
região de São Francisco, nos Estados Unidos, que reúne em uma mesma região condições
para que startups e empresas de base tecnológica, fabricantes, principalmente,
de circuitos eletrônicos, eletrônica e informática, cresçam com base em forte
articulação, conectividade e cooperação entre atores.
A medicina também
empresta modelo para a consolidação de ambientes inovadores. "A pesquisa
translacional, instrumento originalmente utilizado em pesquisa médica, altera a
velocidade entre a descoberta e a aplicação. Trata-se de uma forma de acelerar
a eficiência de um processo, contribuindo para ampliar as experiências, a
compreensão de doenças epidemiológicas e dos mecanismos básicos de
doenças", disse José Eduardo Krieger, presidente da Academia de Ciências
do Estado de São Paulo e pró-reitor de pesquisa da USP.
Nos últimos anos,
a compreensão dos mecanismos básicos de doenças tem ganhado proeminência. Tanto
que, atualmente, o medicamento mais vendido em todo o mundo está voltado ao
combate do colesterol elevado - principal responsável por doenças
circulatórias. "Nos últimos anos, a eficiência da pesquisa translacional
cresceu e está chegando aos consumidores." Demanda, porém, um ecossistema
de conhecimento.
Empreendedorismo inovador
Instituições de
excelência, como o ITA, em São José dos Campos, também estão reavaliando sua
estrutura de ensino para formar engenheiros e empreendedores capacitados para
competir em ambiente global. "Não existe um modelo copiável", disse
Carlos Américo Pacheco, reitor do ITA. Ele citou propostas alternativas como a
do CDIO (Conceive/Design/Implement/Operate), concebida pelo Massachusetts
Institute of Technology (MIT), ou a do Franklin W. Olin College of Engineering,
também nos Estados Unidos, que adotam estratégias de ensino baseadas em
projetos, equipe e requisitos, entre outros.
"Nosso
objetivo é criar uma geração de engenheiros inovativos e empreendedores. No
primeiro semestre do curso do ITA, introduzimos desafios por grupos, o que
inclui projetos. O aluno tem que resolver a base científica do problema",
exemplificou. Também está prevista no instituto a criação de um Centro de
Inovação, de forma a permitir que a escola incorpore iniciativas empreendedoras
dos alunos e promova a interface entre universidade e empresa. "Queremos
despertar a paixão dos alunos por um assunto científico da engenharia e que irá
definir o seu caminho."
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